domingo, 8 de agosto de 2010

Um pouco sobre Inception


Eu ainda não me recuperei da sessão de ontem, às 20:40 da noite. Entrei ansioso e saí atônito.

Quem viu Dark Knight ou Memento sabe que eu tenho motivos pra ter espectativas altas quando se trata de Christopher Nolan. O diretor, que começou a trabalhar com cinema em 89, lançou seu primeiro longa, o neo-noir Following, em 1998 e obteve maior espaço com Memento, de 2000.

Desde então, o diretor mostrou seu apreço por suspense, mistério e por abordagens introspectivas. Devo dizer que vem se especializando nisso e procura desenvolver as tramas de forma a explorar ao máximo as particularidades dos personagens. Isso me motiva bastante.

Inception é isso. É uma ficção científica de um universo novo, amplo e interior em que a trama se desenvolve com naturalidade, em meio a mistério e suspense. E foi impressionante constatar como essas escolhas casaram com maestria.




A construção do universo onírico no filme se assemelha a construção da Matrix, no entanto a volatilidade e a influência que os personagens, fisico e psícológico, têem sobre aquele universo o torna fascinante de uma nova forma. Não é simplesmente um universo alternativo, é onde a imaginação e a realidade tem uma conexão direta e a concretização se faz na velocidade de um pensamento. Apresentado isso, eu já estava tomado. As possibilidades eram infinitas...só restava ver como ele as usaria.
 
A construção do espaço, a ação do subconsiente e essas possibilidades infinitas são fascinantes dentro e fora da narrativa. A jovem arquiteta Ariadne, vivida por Ellen Page, abre mão do que acha certo pela fascinação do novo universo. É inevitável. O mesmo acontece conosco. Imagine criar castelos de areia monumentais, transformar ilusões de Escher em arquitetura habitável, poder subir as escadas de Penrose e  ignorar a física em nome da criação...simplesmente fantástico. Temos uma fração dessa possibilidade ao ver o trailer e ver a superfície de uma cidade se dobrar. O roubo e a implantação de idéias são engenhosos,  pequenos jogos de manipulação dentro da mente que seriam interessantes (e que poderiam até sustentar uma trama) por si só, mas que são magnificado por todos os outros elementos envolvidos, que alteram as dimensões e sentidos.


As cenas de ação, que poderiam ser o ponto fraco de um filme com essa premissa, são muito boas. Sim, há um bocado delas, e isso pode diminuir o filme pra alguns, mas pra mim, elas são uma pequena adição de tensão num filme como esse. E algumas são tão únicas e impressioantes, graças ao universo em que estão situadas, que eu não posso imaginar como seria o filme sem elas. Tenho certeza que terão grande repercussão e influência nas novas produções.


Embora as abordagens de um sonho costumem ser de um visual menos realista, achei muito interessante manter uma estética próxima da realidade: por maiores os absurdos que já tenha sonhado, nunca me vi entre as cores e distorções de Dali, mas mais próximo da realidade. Achei um escolha sensata e de pouco risco (o que pode ser bom ou ruim, mas que comercialmente tende a ser melhor aceito). Em partes do filme, a montagem é feliz ao ser manipulada pra dar uma sensação de sonho. Deixar o nexo suspenso em nome do mistério, mas, por se tratar de um filme de intenção comercial e não puramente artística, isso não prejudica o entendimento da trama, só adicona tensão ou atmosfera.


DiCaprio e companhia fizeram um belíssimo trabalho, dando forma e densidade psicológica aos personagens. Cada um adotou trejeitos e personalidades bem distintas, embora não tão caricaturais, e desenvolveram personagens de linhas bem diferentes. A escalação e o espaço dado a cada personagem, a meu ver foi um êxito sem tamanho.

Ellen Page e Joseph Gordon-Levitt, mais conhecidos por seu trabalho em Juno e 500 dias com ela, respectivamente, demonstraram maturidade ao encarnar esses novos papéis, sem necessariamente deixar de explorar a sua juventude - São artistas de uma nova geração em que acredito.
Ken Watanabe, não necessita muito de apresentação, foi muito bom, como era de se esperar. Embora a trama fosse em grande parte guiada por seu personagem, ele fez aparições importantes mas não teve tanto espaço - uma opção que seria segura, mas que não pareceu necessária, no filme.
Uma surpresa agradável foi Eames, interpretado por Tom Hardy. O ator, de quem eu mal me lembrava de quando vi Rock n' Rolla, teve grande participação no filme e se mostrou altamente cativante como o tipo extrovertido, irônico e vigarista. Simplesmente fantástico.
O químico Yusuf, ainda que tendo um papel 'menor' foi responsável por momentos memoráveis e não era, de forma alguma, dispensável. O mesmo acontece com
O outrora Jack de Titanic, em seus conflitos, mais uma vez mostrou que não é apenas o sonho molhado de umas menininhas, o cara é bom. Sério. Seus medos e suas memórias são cruciais na história e ele se mostra realmente pertubado por elas. Mal, em específico se mostrou uma personagem triste, perturbadora e de um charme sutil e encantador. Fácil aceitar a relação dela com Don, personagem de DiCaprio.
Michael Caine e Cillian Murphy também foram muito bons em seus poucos momentos sob os olofotes.
Parabéns a todos, citados aqui ou não.



Eu não quero dar spoilers ou ficar me derretendo em elogios então acho bom parar por aqui. Espero ter dado uma pincelada no filme sem me aprofundar em análises que destruiríam a surpresa de quem ainda não viu o filme. Não o vejo como um filme perfeito, tenho algumas críticas bem específicas, uma delas é um momento de tensão em que a montagem paralela falha por excesso e acaba influênciando a fluidez do filme naquele pequeno momento. Nada que me incomodasse a ponto de não me envolver com o filme a partir dali. Eu tenho mania de dar notas, de 0 a 10 para os filmes que assisto. Este seria um 9.5 - nota que eu daria pro Dark Knight e outros poucos filmes como Clube da Luta e Seven. Não...não há um 10...ainda quero assistir o longa-metragem perfeito.

Apesar do tamanho do texto, tenho certeza de que isso é apenas um pouco sobre o filme. Você verá e e sentirá muito mais do que eu poderia passar com esse texto enquanto estiver assistindo-o.
É certeza que o recomendo a todos, fãs do gênero, do diretor, de cinema, ou não.

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Nosso post antigo e trailer do filme

3 comentários:

  1. Inception é um daqueles raros filmes, que aparecem de 10 em 10 anos, e nos fazer querer cagar nosso cérebro fora. De tão do caralho.

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  2. Pepo, o Sr. por aqui...seja bem vindo!

    O filme é do caralho mesmo...acho que seu comentário foi tudo que eu quis dizer e não sabia como.

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